DISCUSSÕES SOBRE A BIOMECÂNICA DO TREINAMENTO COM SALTOS – PARTE 3


Fala rapaziada!

No último artigo discutimos sobre as formas de reduzir sobrecarga com o treino com saltos, contrapondo o que funciona e o que não. Hoje, iremos entender como analisar um salto, podendo classificá-lo como bom ou ruim. Boa leitura e não se esqueçam de curtir e compartilhar o artigo nas redes sociais!


4. ANÁLISE DINÂMICA DO SALTO
Existe uma fase muito presente nos saltos, chamada de fase de preparação, que nada mais é do que uma estratégia de acumular carga na fase excêntrica a fim de restituí-la na concêntrica. Sendo assim, ao procedermos desta forma, iniciamos o movimento em direção oposta à desejada, forma conhecida por CMJ, CounterMovement Jump ou salto com contra movimento.

Posto isto, passemos, agora, a discutir a análise biomecânica do salto, de modo a obtermos subsídios para distinguirmos um salto bom de um ruim. Observe o gráfico abaixo:

Começando a análise, temos um gráfico de força de reação do solo, potência e velocidade pelo tempo de um sujeito de 60kg realizando um CMJ. Para deixar o PC (peso corporal) evidente por todo o período da ação, marquei-o em azul, numa linha horizontal, para facilitar nossa discussão.

Repare que no início do gráfico o sujeito estava em pé, parado, e, logo na sequência, começa a executar a fase de preparação para o salto, indo abaixo de seu próprio PC, acelerando a favor da gravidade, descendo até um máximo.

Finalizada esta etapa, ele começa a desacelerar (acelerando para cima), até atingir velocidade zero, momento do gráfico onde tracei uma reta vertical vermelha: reparem que ela surge exatamente no ponto onde temos a velocidade zero do eixo das ordenadas do lado direito, registrando o preciso momento onde o indivíduo para de descer.

O exato ponto mínimo até onde o sujeito desce não é mostrado nesse gráfico, uma vez que isto é obtido por uma curva de centro de gravidade e não pela de velocidade, portanto, tenha isto em mente ao interpretar gráficos como este para não se confundir.

Bom, mas como identificar um bom saltador de um ruim com estas informações?

Após realizar as divisões adequadas no gráfico, repare que acabamos por obter duas áreas hachuradas, sendo a alaranjada da esquerda a representante da fase de preparação e a esverdeada da direita, a da propulsão.

Calculando estas áreas, poderemos saber se o salto foi bom ou não, haja vista que indivíduos habilidosos geram impulsos de frenagem que não passam de 1/3 do de propulsão.

Tendo isto em vista, o salto do gráfico foi ruim, uma vez que a energia despendida para frear o movimento foi cerca de metade da utilizada para propulsionar. Isto pode ter acontecido por alguns motivos, como veremos na sequência.


5. QUAIS FATORES FAZEM COM QUE UM SALTO SEJA RUIM?
São quatro os principais motivos que podemos utilizar para responder esta pergunta de forma satisfatória. São eles:

I) Uma estrutura viscoelástica, como é o caso dos nossos músculos e tendões, submetida a um estresse constante, responde relaxando, fenômeno este conhecido por “Relaxamento de Estresse”. Dentro do contexto do salto isto é péssimo, uma vez que dissipa a energia acumulada.

II) Quanto mais descemos na fase de preparação, mais aumentamos a distância da carga em relação ao eixo, incrementando o braço de alavanca/torque resistente e, consequentemente, a força necessária para levantar.

III) Comprimento muscular: músculos muito alongados, com grande incremento de comprimento, como no caso de descidas exageradas, perdem parte da capacidade de gerar tensão, uma vez que há prejuízo na interação entre as pontes de actina e miosina.

IV) Características reflexas: indivíduos treinados, ao realizarem o contra movimento, sinalizam para os fusos musculares, estimulando-os, de modo que eles sinalizem à medula e esta, por sua vez, gere uma alça reflexa para o músculo, ordenando uma forte contração, contexto conhecido por reflexo miotático, que possibilitará auxílio na propulsão.

Nos sujeitos destreinados, isto não acontece, sendo o estresse imposto detectado pelos OTG, que geram uma resposta reflexa de relaxamento muscular, por proteção, prejudicando a propulsão.

Talvez o leitor esteja se perguntando o porquê de em um caso o OTG ser o principal responsável e em outro os fusos musculares e a resposta é simples: a carga imposta a cada um deles acaba sendo diferentes em ambos os casos. Os OTG do indivíduo treinado são ativados num limiar de acionamento muito maior do que no caso do destreinado, permitindo uma fase de preparação adequada.

Para encerrarmos mais este tópico, trago uma pergunta: qual a amplitude ideal para saltar sem incorrermos nestes cenários negativos que citei acima?

Infelizmente, não há uma resposta padrão aqui, pois as características da amplitude mudam de uma modalidade para outra, sendo assim, o ideal é que o sujeito treine o salto especificamente dentro dos comportamentos de seu esporte, adquirindo experiência, incorporando o movimento tanto no treino como em situações reais de jogo.

Ficamos por aqui. No próximo artigo, finalizaremos a série explicando como fazer um treinamento pliométrico com saltos. Até lá!



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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Comentários

  1. Muito bom o artigo, sempre tive dúvida neste ponto. Obrigado por compartilhar

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