Fala rapaziada!
Por excesso de trabalho, pela
primeira vez em quase 5 anos acabei deixando o site de lado e sem novas
publicações por um bom tempo (2 meses). Espero, agora, poder voltar a publicar
com mais frequência.
Para marcarmos nosso retorno,
hoje iremos encerrar a série sobre biomecânica dos saltos. Boa leitura!
6. TREINANDO SALTOS COM PLIOMETRIA
Conforme já discutido, quando
agachamos, estamos transferindo energia para o componente elástico do músculo,
que, neste momento, está em contração excêntrica. Ao realizarmos o salto
propriamente dito, em outras palavras, ao estendermos o joelho, o que foi
acumulado é rapidamente restituído na fase concêntrica.
Tal fenômeno é conhecido por
ciclo excêntrico-concêntrico ou acúmulo-restituição, dependendo, para que
ocorra, especialmente do componente elástico em série, haja vista que, por
geometria, conseguimos alongá-lo mais e ao mesmo tempo do que o paralelo,
proporcionando um movimento mais rápido e intenso.
Porém, é importante que tudo isto
seja realizado de forma realmente rápida, caso contrário, a energia armazenada
se dissipará sob a forma de calor, pois todo tecido viscoelástico, como é o
caso do músculo, quando submetido a um aumento constante de estresse, responde
com relaxamento, perdendo a capacidade de restituir a energia.
Um teste simples de se realizar
para verificar o poder desse mecanismo é comparar o salto com contra movimento
(CMJ) com um salto sem preparação, chamado de squat jump. A diferença entre eles reside no
fato de no primeiro utilizarmos o componente elástico e o contrátil, enquanto
no segundo, apenas este último.
Quando comparamos ambos estes
saltos em variados grupos de pessoas, podemos perceber que, quanto maior a
discrepância entre os testes, mais habilidoso é o sujeito no aproveitamento do
acúmulo-restituição, como é o caso de jogadores de basquete.
Por outro lado, um powerlifter
tem um péssimo aproveitamento dentro deste contexto, sendo os dois saltos muito
parecidos, haja vista que é característica da modalidade não se apoiar muito em
componente elástico. Na musculação mesmo evitamos ao máximo o trabalho dele,
dando mínimos intervalos, de por exemplo 1 segundo, entre as fases concêntrica
e excêntrica, pois, se não o fizéssemos, perderíamos stress muscular,
hipertrofia e por aí vai...
Posto isto, surge a pergunta: há
como treinarmos o componente elástico? Há como melhorá-lo? Sim, e a resposta surge com o
treinamento pliométrico, originário da finada URSS, que visa a treinar a
capacidade de acúmulo e restituição do componente elástico, usando, como
estratégias, a diminuição do tempo de contato e o aumento progressivo da
aplicação de cargas.
Em relação aos saltos, o
treinamento pliométrico os faz de forma sucessiva, com a ideia de reduzir ao
máximo o contato com o solo, diminuindo a dissipação de energia. Além disso, é
feito através de alturas progressivas, pois quanto maior for a altura, maior será
a carga imposta para ser absorvida.
Outro fator muito importante a
ser observado, onde muitos atletas e treinadores falham, é que as cargas
impostas são totalmente individuais! Aplicar o mesmo tipo de treino, com
sobrecargas iguais a todos os alunos é um grande erro, haja vista que para uns
ela será adequada, enquanto para outros, não, sendo ou muito leve, o que
desrespeita a ideia de “ensinar” o músculo a acumular cada vez mais carga, ou
muito pesada, o que aumentará o tempo de contato com o solo, dissipando
energia.
E por falar nele, é essencial
mencionar que o tipo de solo é de total importância no treinamento pliométrico:
jamais o faça na areia ou no tatame, como muitos lutadores ingenuamente recomendam,
haja vista que se o piso não for bastante rígido, ele desacelera o movimento,
aumentando o tempo de contato, dissipando uma grande quantidade de energia!
Para encerrarmos, vale mencionar
que o treinamento de pliometria traz diversas melhoras de desempenho,
envolvendo ganhos em velocidade, aceleração, força, potência, agilidade e potencialização muscular. Além disso, se realizado de forma adequada no
aquecimento, é capaz de trazer ganhos em performance esportiva.
Vimos, ao longo desta série, as
diversas facetas que compõem o cenário da biomecânica dos saltos.
Primeiramente, foi discutido que
eles geram sobrecargas bastante altas, em curtíssimos intervalos de tempo, fato
que pode gerar lesões caso o sujeito não esteja preparado. Além disso, falamos
também sobre aspectos que podem interferir positivamente na redução da
sobrecarga gerada, como a desaceleração, força, sincronia e pré-ativação, assim
como de fatores que não geram benefícios, feito calçado, alongamento e uso de
colchonetes ou superfícies macias.
Continuando, realizamos uma
análise dinâmica do salto, estudando características que explicam porque ele
pode ser bom ou ruim, inclusive justificando esta última através dos conceitos
de relaxamento de estresse, comprimento muscular, torque e reflexos.
Por fim, discutimos um dos
melhores e mais tradicionais métodos de treinamento para melhora de desempenho
nos saltos, conhecido por pliometria.
Ficamos por aqui. Até a próxima
série!
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FERNANDO PAIOTTI
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